sexta-feira, 23 de abril de 2010

Pedalando em grupo ou em bando

A partir de dezembro do ano passado resolvi intensificar meu treinamento para poder empreender a cicloviagem de Lisboa a Santiago da Compostela.


Sei que deveria ter me esforçado mais na ginástica, principalmente em abdominais, parte importante na sustentação de quem pretende pedalar por muito tempo.



Descobri também que pedalar em bicicleta ergométrica é extremamente chato. Você pedala e pedala e não avança 1 centímetro. A paisagem muda quando mudam as meninas da academia que “pedalam” ao seu redor. Elas pedalam lendo revistas de moda, admirando seu corpo no espelho ao lado, compenetradas em conseguir formas mais atraentes e glúteos mais enrijecidos.



Acabei optando em pedalar com grupos de ciclistas, principalmente os noturnos.



Não foi uma má escolha. Dos mais de 1600 km pedalados nestes últimos 3 meses, 960 km foram com grupos.



Saí com 7 grupos distintos, quase todos da região sul da capital de São Paulo sempre na proposta de um pedal mais “light”, dando em média 30 km por passeio.



Conheci basicamente dois tipos de grupos: os vinculados a lojas de bicicleta e grupos independentes formados ou liderados por uns abnegados que insistem em divulgar a bicicleta como meio de transporte e de lazer.



Entre estes últimos está o grupo do Olavo, o Star Bikers comandado pelo Pre e o pessoal do Pedal Serrano de Ribeirão Pires organizado pelo simpático Roberto Lima.



Percebi que além desta distinção existe outra diferença entre estes diversos grupos. Um que se propõe efetivamente a pedalar em grupo e outro que motivam os ciclistas a atuar como um “bando a solta” pelas ruas da capital.



Pedalar em grupo a noite com responsabilidade e segurança é pedalar em pelotão relativamente coeso não se afrontando com carros e pedestres. É ocupar apenas uma faixa de transito. A diferença está no guia que impõe as regras e as deixa clara durante todo o percurso e que sabe selecionar o trajeto.



Exemplos desta prática salutar são dados pelo Cleber Anderson da Anderson Bicicletas, um primor de guia e empenhado em levar adiante o conceito elaborado no seu guia “Bike na Rua”.



Outro guia extremamente responsável é o Pre, mentor da Star Bike. Meio sargentão não admite irresponsabilidades no transito e deixa sempre claro que se ele não gostar de seu comportamento, você “está fora”.



Exemplo também de prática responsável é o casal da GoBiking, uma agência de cicloturismo, que organiza a pedalada noturna da loja Bike Town.



Pedalar com o Olavo é uma festa dominical. Mais de 200 ciclistas invadem São Paulo, sendo tocados pelos guias adrenados da Olavo que se comportam como vaqueiros em filmes do Velho Oeste conduzindo a nós, o gado.



Tenho observado que alguns grupos promovidos pelas lojas são desorganizados e transformam passeios noturnos em um acinte à cidade.



Pedalam saltando pelas calçadas, fazendo malabarismos por mero exibicionismo, correndo por entre os carros e ao se sentir “lesado” no seu direito de ciclistas revidam com xingamento e provocações.



No último dia mundial sem carro que aconteceu em São Paulo saí pedalando pela cidade e fui propositadamente fechado em momentos distintos por um carro e por um ônibus. Percebi que os motoristas pareciam se sentir ameaçados de seu direito de locomoção.



Se hoje, temos uma cidade sem planejamento viário adequado, em que carros, caminhões, ônibus, motos e pedestres convivem com muito pouco respeito mútuo, o comportamento destes ciclistas, somente fará com que parte da população acredite que mais um contendor está entrando neste campo de batalha.

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