terça-feira, 13 de abril de 2010

Eu e a bicicleta

De todas as tranqueiras materiais que cercam a minha vida, tem apenas três que eu curto ou me apego: minha casa, os livros e a minha bicicleta.

Comprei minha bicicleta em 2000, uma Gary Ficher, quadro cromo molibdênio, e nela, sei que não é muito, pedalei uns 8000 km.

Fico matutando o porquê tenho tanta paixão por esta bicicleta. Um dia vou pegar a minha amiga psicóloga, a Bia, que curiosamente é Santiaguense e pedir para ela analisar. Sei que ela coçará o queixo, como sempre faz e na sua solenidade terapêutica não dará declarações reconfortantes, algo do tipo: que sou um retardado infantilizado, que a bicicleta representa algum lado obscuro de minha vida ou que Freud ainda acabará por explicar.

Pesquisando no Google sobre esta paixão acabei me deparando com um blog do Denis Russo Biergman sobre um livro: Diários de uma Bicicleta de David Byrne.

Vou procurar o dito livro! Mas vamos a citação:

“Byrne começa o livro dizendo que, do selim da bicicleta, temos uma perspectiva diferente do mundo. Mais rápido que um pedestre, mais lento que um trem, ligeiramente mais alto do que uma pessoa. Dessa perspectiva vemos algo que não se vê de outro modo, temos portanto uma compreensão um pouco diferente do mundo. Pedestres não chegam a lugar nenhum, motoristas apenas passam pelos lugares sem se relacionar com eles. Ciclistas combinam alcance (dá para pedalar 100 quilômetros num dia) com profundidade (dá para papear com todo mundo no caminho).”

Cicloviajar é ver o mundo em 360 graus no silêncio ou no ruído que o meio propicia. Você é um voyeur da paisagem e ator ou co-participante das ocasiões que se desenrolam ao longo da viagem. É um objeto de admiração daqueles que sabem que você chegou pelo seu próprio esforço, não importa aonde ou de onde.

A bicicleta tem o fascínio dos antigos trens. Você a entende é puro hardware. Você a regula conserta e a adéqua a sua comodidade ou a seus objetivos. Não importa quantas bicicletas existam do mesmo modelo que a sua, você sabe que enquanto ela é sua, é única.

A bicicleta é um vício motivado pelo prazer. Converse com um ciclista e ouvirá a paixão pelas situações vividas com ela, pelos “causos” propiciadas pela sua bike. Pela docilidade com que responde aos seus ímpetos, mesmo que custe até um belo tombo.

Perdoem-me os aficionados pela caminhada, mas nunca ouvi alguém declarar amor ao seu tênis ou a sua mochila. Até pelo contrário, muitos dos relatos que li sobre as peregrinações a pé do caminho de Santiago reclamam da bota, do tênis e das bolhas.

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