sábado, 29 de maio de 2010

A Chegada






Em Padron, nossa última parada no Caminho de Santiago, choveu a noite toda. Ao iniciarmos a nossa jornada ainda fazia frio e prenunciava que teríamos um dia árduo pela frente.

Era nosso tributo, nosso derradeiro esforço para completarmos nosso objetivo. Tínhamos a opção de seguir pela estrada nacional e com isto os riscos de lama, trilhas escorregadias ou falta de abrigo com chuvas fortes do caminho poderiam ser minimizadas.

Estoicamente decidimos seguir pela rota peregrina, afinal apenas um pouco mais de 20 kms nos separava da catedral.

Mentalizados das dificuldades, fomos num pedal leve, 10 km a hora.

Lentamente começamos a subir por dentro da mata, sem dificuldade, guardando energias para o final.

Agoniado olhava para o ciclo computador verificando a distância percorrida e o mapa com a altimetria. Subíamos mas sem esforço!

Saímos do bosque e nos deparamos com uma cidade. A Célia com seu parco senso de orientação acreditava que a grande subida se daria a seguir. Eu olhava ao redor e percebia que estávamos no topo, não havia mais montanhas próximas e a quilometragem sinalizava que a grande SUBIDA tinha ficado para trás.

Descemos uma ladeira por entre umas casas, encontramos um viaduto, as inexoráveis setas amarelas e começamos a subir para a cidade de Santiago.

A GRANDE SUBIDA era um mito! Um conto da carochinha! Que decepção, tantos temores, mentalizações e estoicismos para nada. O que vou contar para os amigos, os netos, os filhos! E o sentimento de superação de seu limite, a dor peregrina onde ficaram!

Não importa. CHEGAMOS! Rodear com a bicicleta a praça da Catedral dá um enorme sentimento de euforia, de algo realmente concluído.

Ver dezenas de outros realmente abnegados, mancando empunhando seus cajados, guias de caminhada, pesadas mochilas, cabaças e vieiras, queimados pelo sol confere a Santiago uma qualidade especial.

Ao receber a Compostelana, não da igreja, mas de uma agência governamental de turismo percebi que enorme grife é a peregrinação, move milhares de euros.

Dezenas de peregrinos perambulam pela cidade dando a cidade um ar de woodstock católica. Não conheço Roma mas Santiago da Compostela é uma Jerusalém punk!

Santiago da Compostela é a constatação de que o sonho não acabou, se continua a dormir em slepping bag e sonhando ideais pelos seus caminhos.


OBS: A medida do possível continuarei a refletir sobre esta experiência neste blog.

Um comentário:

  1. Adorei Vigo.


    Vc sabe a história de Belmonte?
    Dizem que só depois da segunda guerra, quando um engenheiro judeu foi lá para fazer uma hidroelétrica, os cripto judeus descobriram que não eram os últimos judeus do mundo.
    Acho que minha família portuguesa era de lá.
    beijos para vcs
    Cibele

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