quinta-feira, 20 de maio de 2010

Saindo de Porto


Um acesso insone me fez despertar voluntariamente as 6:00 hs da manhã, após uma noite mal dormida. Acordei a Célia para nos preparar pro inicio do que poderia ser considerada a segunda fase de nossa ciclo viagem peregrinatória a Santiago da Compostela.

Após o ritual de acomodarmos nossa bagagem na bicicleta, ato que requer concentração e ciência, fomos ao lado de nossa estalagem tomar nosso pequeno almoço (vulgo café da manhã).


Não sabedouro do rumo a tomar, sabia que não seria a Tomar, após ingerir meu galão (vulgo média), perguntei ao dono da taverna qual seria o melhor caminho para Vila do Conde, não deixando-o de lembrar estar eu na condição de mero pedalante.


Atrás do balcão a servir os acepipes e outras iguarias estava uma simpática e bela senhora, com ares de não pertencer a fidalguia local, porém de boa formação, que não me recordando ora o seu nome nomear-lhe-ei apenas pelo epíteto de Dulcinéia del Porto da praça Pontes de Leitão.


O senhor taverneiro coçou a cabeça demonstrando que vacilaria na resposta. Num rasgo de inteligência, em alto e bom tom, inquiriu os presentes pondo pública a minha dúvida.


Em triunfo os presentes iniciaram uma furiosa polêmica no intuito de nos traçar o melhor caminho, mas o consenso fugia a cada nova aposição.


Dulcineia se ria desbragadamente. Fomos incitados pelos polemicistas locais a tomar partido e Dulcineia docemente explicava não sermos pessoas afeitas a geografia local.


Um senhor que estava a se deslocar de muletas, porém de trajar a revelar ser uma pessoa de posses, resolveu ditar nossa rota, e me perguntava se eu conhecia as referências que ele sucessivamente me fornecia.


Perplexo respondi que não conhecia os pontos por ele citados o que ele me respondeu:


- Desse jeito não dá para explicar, o Sr não conhece nada!


Filosoficamente retruquei:


- Senhor! se eu conhece o Porto, talvez não necessitaria perguntar nada!


E Dulcinéia virando para meu indignado conselheiro reafirmou:

- Pensa bem, ELES NÃO SÃO DAQUI!

Só sei que agradeci a não informação recebida prometendo deixar meu email para que pudesse eu ter acesso à conclusão da melhor rota quando chegasse ao Brasil.

Dulcinéia continuava a rir e menear a cabeça num gesto a indicar discordância com a polêmica presenciada e saímos incontinente, Célia e eu.


Saímos da taverna ao som dos esbravejamentos da discussão da rota que deveríamos seguir.

Seguimos a rota mais lógica, margeando inicialmente o Rio Douro e o Oceano Atlântico até chegarmos a Esposende, distante de 71,5 km da taverna, nosso ponto de partida.


Confesso que ao sair da cidade de Porto tive um sentimento de perda por acreditar que provavelmente não voltarei mais a esta bela e divertida vila.


No caminho para cá, nas dunas das praias, vi antigos moinhos de vento que foram me inspirando o estilo. Os fatos são fatos, não merecem versões ou retoques...


Ah! Espero que agora, 18:30 hs, horário de Esposende a discussão em Porto tenha chegado a bom termo!!!

2 comentários:

  1. HEHEHEH... azares do caminho! Acho que sua experiência mostra que seguir uma rota a Santiago de bikes tem problemas inesperados. A pé, quase sempre se encontra uma vieira ou uma seta amarela, as vezes nos locais menos prováveis... de bike, acho que a gente passa por elas sem nem perceber... ainda mais no Caminho portugues, que parece não ter esta sinalização tão comum em terras de espanha! Boa sorte, ainda olhando diariamente seu blog, suas fotos, e compartilhando hoje, 10 anos que passei em SAHAGUN, os sentimentos que me emocionaram ao descobrir a origem do nome de minha familia materna [SAHAGUN=FAGUNDES, em árabe!)... Boa sorte, agora que estão prestes a entrar na espanha!

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  2. eu digo, esses meus patricios são terriveis, espero que vc esteja passando por Ponte de Lima e Barca , as duas são lindamente medievais. terra da minha familia.

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