sábado, 29 de maio de 2010

Similitudes, micos e outras direcções

PORTUNHOL EM PORTUGAL

Quando um argentino, uruguaio, espanhol ou qualquer outro similar chega a um brasileiro pedindo informações, “duela a quem duela” como diria o Collor de triste memória, nos armamos de uma enorme cara de pau e respondemos em um bom portunhol, mesmo que nosso interlocutor entendesse melhor o português.

Nossos irmãos de além mar fazem algo similar.

Inúmeras vezes, e não foram poucas, perguntei em Portugal alguma informação em Português e confesso para meu espanto, que me respondiam em inglês, francês e até italiano.

Quantas vezes tive que alerta-lo que “please, speake portuguese with me!”

Parece que não se conformam de me responder em língua mãe.

Confesso que muitas vezes fiquei orgulhoso com os elogios do excelente português que falava, a despeito de eu ter previamente me identificado como brasileiro.

HOSPEDANDO-SE EM SANTIAGO.

Chegando a Santiago da Compostela o primeiro lugar que nossa tendência peregrina nos obriga a ir, mesmo eu um peregrino de araque, é dirigir-se a Catedral para moralmente sentir que chegamos, atingimos nossos objetivos.

Após é ir atrás da Compostelana, para sacramentarmos documentalmente que chegamos e ter um papel para exibirmos orgulhosos para os amigos e comentar nossos feitos.

Depois é buscar um lugar para hospedarmos. Fomos abordados por uma série de pessoas oferecendo alojamentos baratos. Devem receber comissão pelos incautos que encaminham.

Fomos abordados por uma senhora baixinha, vestida de preto, com maior jeitão de beata que nos ofereceu um quarto com banheiro no local onde habitava.

Fiquei curioso e fomos seguindo a senhorinha para ver o que tinha a oferecer.

Levou-nos a um apartamento, onde vive e acabamos por ficar no quarto por 35 euros a noite.

Perguntei a ela, Sra Pastora, se ela sempre saia a rua para arregimentar hospedes para seu apartamento. Ela respondeu meio indignada que não, estava apenas voltando da igreja e nos viu e suspeitou que procurávamos quarto.

Dá para acreditar!


OUTRAS DIRECÇÕES

Uma coisa que me chamou a atenção em Portugal, principalmente nas rotundas, vulgo rotatória, é que além das diversas placas que assinalam as direções a seguir, existe uma que invariavelmente assinala “outras direcções”.

Perguntava-me o que significaria esta placa e cheguei a conclusão que estão a dizer “se você não sabe aonde quer ir, vá por aí”.

AINDA SOBRE OUTRAS DIRECÇÕES

Pensando em usar este tema como parte do título de uma postagem, como estou a fazer agora, resolvi parar e fotografar uma placa com estes dizeres.

Vínhamos pedalando por ciclovia a beira da calçada em Viana do Castelo quando vi uma placa. Parei para sacar a minha máquina fotográfica que levo na bolsa de meu guidão.

A Célia, estabanada ao me ver parar compreendeu que era para atravessar a rua e assim o fez a uns poucos metros antes de uma faixa de pedestres.

Imediatamente um guarda local usou seu assobio, a parou e começou a repreende-la.

Ela obviamente usou o surrado argumento de que era brasileira, etc e tal...

Oportunisticamente aproveitou para mandar que eu registrasse o momento fotografando e avisou o guarda que enviaria a foto para o Brasil.

O guarda alegou que não poderia pois achava que era muito feio. Célia o contradisse dizendo que não, que ele era bem bonitinho.

O guarda se ajeitou, colocou o quepe no lugar e pousou para a fotografia.

TOMAR

Estávamos em Tomar, no domingo. Já tinham visitado a cidade e queríamos voltar para Leiria, onde tínhamos pernoitado e deixado às bicicletas.

O ônibus, aqui conhecido como autocar, só passaria as 17:40 hs. Teríamos que baldear em Batalha e pegar outro para Leiria.

Ficariamos umas 3 horas sem nada a fazer.

Matutando em encontrar alternativas, parados num ponto de ônibus, a Célia resolveu inquirir um motorista de linha, que tinha parado no ponto, quando passaria o próximo ônibus a Leiria.

Ele confirmou o horário que tínhamos e ainda inconformados resolvemos ir até a rodoviária na esperança de existir encontrar uma outra alternativa. Quem sabe ir a Fátima e de lá chegarmos ao nosso destino.

Caminhamos até a rodoviária. Lá havia um monte de pessoas jogando dominó.

A Célia perguntou a um dos jogadores qual seria a melhor forma de ir a Tomar.

O cidadão quase aos berros respondeu:

- E eu não falei a senhora que o ônibus só passa as 17:40.

Era o motorista que já nos tinha dado a informação antes e estava a jogar com os amigos antes de voltar a circular.

AFINANDO A PONTARIA

Estávamos na simpática Belmonte e resolvi parar na igreja local solicitar o carimbo para a minha credencial de peregrino.

O padre local estava numa sala ao lado da igreja discutindo em voz meio exasperada com dois homens o que supus serem problemas da comuidade.

Meio que desistindo do carimbo, resolvi seguir meu caminho quando já na rua o padre pediu que eu voltasse.

Bem, voltei e o padre me levou ao salão paroquial ao lado da igreja.

Lá estava a funcionar uma creche.

Carimbou e aí eu pedi para ir ao banheiro para tirar “água do joelho”. Ele me levou até o banheiro.

Ao fechar a porta me deparei com uma privada pequenininha, do tamanho de um pinico.

Tive que afinar a pontaria pois estava assaz apertado.

Terminado, orgulhosamente sem conspurcar o chão, um cidadão abre a porta ao lado saindo do banheiro dos adultos que tinha uma privada tamanho decente.




QUANDO ME REFORMAR

Quando nos hospedamos no hotel em Caldas da Rainha, a simpática dona do estabelecimento perguntou de onde éramos.

Ao dizermos que éramos do Brasil, de São Paulo ela manifestou o desejo de conhecer nossa terra.

Desafiando-a perguntei porque não fazia logo esta viagem. Ela respondeu que não poderia, só depois de se reformar.

Eu, energúmeno pensei que “se reformar” seria fazer alguma espécie de plástica e galantemente falei que ela estava muito bonita do jeito que estava, que não precisaria mudar nada.

Ela ainda bem que não entendeu a minha enorme gafe. Arrematou dizendo que o hotel lhe tomava muito tempo e iria ao Brasil depois de parar de trabalhar.

Reformar em Portugal significa aposentar-se!

A Chegada






Em Padron, nossa última parada no Caminho de Santiago, choveu a noite toda. Ao iniciarmos a nossa jornada ainda fazia frio e prenunciava que teríamos um dia árduo pela frente.

Era nosso tributo, nosso derradeiro esforço para completarmos nosso objetivo. Tínhamos a opção de seguir pela estrada nacional e com isto os riscos de lama, trilhas escorregadias ou falta de abrigo com chuvas fortes do caminho poderiam ser minimizadas.

Estoicamente decidimos seguir pela rota peregrina, afinal apenas um pouco mais de 20 kms nos separava da catedral.

Mentalizados das dificuldades, fomos num pedal leve, 10 km a hora.

Lentamente começamos a subir por dentro da mata, sem dificuldade, guardando energias para o final.

Agoniado olhava para o ciclo computador verificando a distância percorrida e o mapa com a altimetria. Subíamos mas sem esforço!

Saímos do bosque e nos deparamos com uma cidade. A Célia com seu parco senso de orientação acreditava que a grande subida se daria a seguir. Eu olhava ao redor e percebia que estávamos no topo, não havia mais montanhas próximas e a quilometragem sinalizava que a grande SUBIDA tinha ficado para trás.

Descemos uma ladeira por entre umas casas, encontramos um viaduto, as inexoráveis setas amarelas e começamos a subir para a cidade de Santiago.

A GRANDE SUBIDA era um mito! Um conto da carochinha! Que decepção, tantos temores, mentalizações e estoicismos para nada. O que vou contar para os amigos, os netos, os filhos! E o sentimento de superação de seu limite, a dor peregrina onde ficaram!

Não importa. CHEGAMOS! Rodear com a bicicleta a praça da Catedral dá um enorme sentimento de euforia, de algo realmente concluído.

Ver dezenas de outros realmente abnegados, mancando empunhando seus cajados, guias de caminhada, pesadas mochilas, cabaças e vieiras, queimados pelo sol confere a Santiago uma qualidade especial.

Ao receber a Compostelana, não da igreja, mas de uma agência governamental de turismo percebi que enorme grife é a peregrinação, move milhares de euros.

Dezenas de peregrinos perambulam pela cidade dando a cidade um ar de woodstock católica. Não conheço Roma mas Santiago da Compostela é uma Jerusalém punk!

Santiago da Compostela é a constatação de que o sonho não acabou, se continua a dormir em slepping bag e sonhando ideais pelos seus caminhos.


OBS: A medida do possível continuarei a refletir sobre esta experiência neste blog.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Pelas Rias chegando quase lá!






De Oia começamos a margear a Ria de Vigo.

“Geográficamente, una de las peculiaridades de Galicia es la presencia de las rías, indentaciones en la costa en las que el mar anegó valles fluviales por descenso del nivel terrestre (ascenso relativo del nivel marino)”

Bem, conclusão apaixonamo-nos pela costa da Galicia. Em pleno domingão galego, com um monte de ciclistas a pedalar em frenesi pelas estradas, entramos em Vigo.

Se nossa intenção era ir para a Redondela e com isto abandonar aquela costa maravilhosa, de Vigo pegamos um barco que nos levou ao outro lado da ria, uma cidade conhecida como Cangas.

De Cangas fomos a Hui onde pousamos num hotel de nome bem galego: Stop.


Hui tem uma escultura do Cristo sendo tirado da cruz, que fica na frente da igreja local que é maravilhosa.

De Hui, num pedal rápido chegamos a Pontevedra, margeando a Ria de mesmo nome.

Pontevedra é outra cidade inesquecível, medieval e pulsante.

Daí, há poucos kms de Santiago, tínhamos que cair no clássico caminho português de peregrinação.

Como vínhamos carregando muita bagagem já que prosseguiremos nossa viagem pela Espanha em veiculo alugado, deixamos parte significativa dela em Pontevedra, para busca-la mais tarde.

Saímos de Pontevedra relativamente leves, debaixo de chuva preparados para a pauleira que nossos mapas indicavam em termos de altimetria.

Chegamos a Padron, ensopados, intactos e admirados com a facilidade com que vencemos este percurso. Até o momento temos 680 km de pedal em solo lusitano. 830 kms de pedal na península ibérica e acredite, há somente 20 kms de Santiago da Compostela, onde amanhã enfrentaremos a grande subida.

Alguns personagens do Caminho












Entrando na Espanha







Escrevo agora em Óia (sábado), porém consegui postar somente na terça.

De Esposende a Viana do Castelo foram apenas 30 km de pedal.

Contribuiu também para nossa decisão o calor infernal. 32 graus num dia sem nenhuma brisa.

Viana é peculiar, não no aspecto urbanístico. Parece com outras que já passamos, mas o que a torna diferente é um certo ufanismo.

Viana tem o funicular mais longo da Europa, o que vence maior altitude e sobretudo a vista da cidade no Mosteiro de Santa Luzia é considerada pelos Vianenses como uma das mais belas do mundo. Vale a pena funicular para constatar que você consegue listar no mínimo 10 paisagens mais nelas que a apregoada.

Em menos de nada estávamos em Caminha (20 km) e de ferry boat atravessamos 0 Minho entrando na Espanha pela cidade de La Guardiã.

Já a partir de Viana a paisagem mudou mais verde e a estrada deixava de ser totalmente plana. Na Espanha a paisagem modificou-se radicalmente. Pedala-se vendo o mar mas uns 50 metros acima margeando montanhas.

Chegando a igreja de Oia, havia sinais de que de noite rolaria uma festas. Quiosques, palco armado, teste de som. Cheguei a pensar em ficar na vila e quase fiquei. Sabadão em Oia com musica galega deve ser inesquecível. A propósito, não me recordo em qual sítio (lugar aqui na Espanha) paramos para um café e vendo a televisão quem eu ouço e vejo cantando: Zezé de Camargo e Luciano.

Bem voltemos a Oia. Na porra da praça onde rolaria a festa, meu pneu furou. Precavido trouxe 2 câmaras sobressalentes. Como não descobri o maldito prego, detonei impávido as duas. Mas aí mais paciente, resoluto e puto, fui passando o dedo até me ferir e descobrir o maldito. Claro que os remendos eram velhos ou eu muito ineficiente. Conclusão, encontrei um simpático senhor que me levou a um borracheiro que solucionou o problema.

Seguimos mais alguns kms até pousar. O hotel pertence a dona Lola, que tem uma filha Ana, poeta, cozinheira, casada com um caminhoneiro, que toca sei lá o que na banda da igreja local e seu filho integra-se a banda como tocador de tuba, e vive brigando com a mãe mas se querem muito e vive na região que produz os melhores mariscos do mundo, que não viveria em vigo por nada neste mundo e que seu cachorro mata todas as galinhas... ah, e a filha se chama Carmen!

Te juro, parecia contando tudo isto de um só fôlego, num tom de voz tonitroante, um personagem de um filme de Almodóvar.

No final, jantamos como reis, outra hora falarei deste jantar.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Saindo de Porto


Um acesso insone me fez despertar voluntariamente as 6:00 hs da manhã, após uma noite mal dormida. Acordei a Célia para nos preparar pro inicio do que poderia ser considerada a segunda fase de nossa ciclo viagem peregrinatória a Santiago da Compostela.

Após o ritual de acomodarmos nossa bagagem na bicicleta, ato que requer concentração e ciência, fomos ao lado de nossa estalagem tomar nosso pequeno almoço (vulgo café da manhã).


Não sabedouro do rumo a tomar, sabia que não seria a Tomar, após ingerir meu galão (vulgo média), perguntei ao dono da taverna qual seria o melhor caminho para Vila do Conde, não deixando-o de lembrar estar eu na condição de mero pedalante.


Atrás do balcão a servir os acepipes e outras iguarias estava uma simpática e bela senhora, com ares de não pertencer a fidalguia local, porém de boa formação, que não me recordando ora o seu nome nomear-lhe-ei apenas pelo epíteto de Dulcinéia del Porto da praça Pontes de Leitão.


O senhor taverneiro coçou a cabeça demonstrando que vacilaria na resposta. Num rasgo de inteligência, em alto e bom tom, inquiriu os presentes pondo pública a minha dúvida.


Em triunfo os presentes iniciaram uma furiosa polêmica no intuito de nos traçar o melhor caminho, mas o consenso fugia a cada nova aposição.


Dulcineia se ria desbragadamente. Fomos incitados pelos polemicistas locais a tomar partido e Dulcineia docemente explicava não sermos pessoas afeitas a geografia local.


Um senhor que estava a se deslocar de muletas, porém de trajar a revelar ser uma pessoa de posses, resolveu ditar nossa rota, e me perguntava se eu conhecia as referências que ele sucessivamente me fornecia.


Perplexo respondi que não conhecia os pontos por ele citados o que ele me respondeu:


- Desse jeito não dá para explicar, o Sr não conhece nada!


Filosoficamente retruquei:


- Senhor! se eu conhece o Porto, talvez não necessitaria perguntar nada!


E Dulcinéia virando para meu indignado conselheiro reafirmou:

- Pensa bem, ELES NÃO SÃO DAQUI!

Só sei que agradeci a não informação recebida prometendo deixar meu email para que pudesse eu ter acesso à conclusão da melhor rota quando chegasse ao Brasil.

Dulcinéia continuava a rir e menear a cabeça num gesto a indicar discordância com a polêmica presenciada e saímos incontinente, Célia e eu.


Saímos da taverna ao som dos esbravejamentos da discussão da rota que deveríamos seguir.

Seguimos a rota mais lógica, margeando inicialmente o Rio Douro e o Oceano Atlântico até chegarmos a Esposende, distante de 71,5 km da taverna, nosso ponto de partida.


Confesso que ao sair da cidade de Porto tive um sentimento de perda por acreditar que provavelmente não voltarei mais a esta bela e divertida vila.


No caminho para cá, nas dunas das praias, vi antigos moinhos de vento que foram me inspirando o estilo. Os fatos são fatos, não merecem versões ou retoques...


Ah! Espero que agora, 18:30 hs, horário de Esposende a discussão em Porto tenha chegado a bom termo!!!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Fotos de Porto











De Coimbra a Porto






Tem sido dificultoso manter o blog minimamente atualizado com o evoluir da cicloviagem. Estamos agora aportado em Porto e o blog há 6 dias atrás.

Neste intervalo pedalamos de Coimbra a Aveiro (70 km). Em Aveiro alugamos um carro e fomos conhecer Viseu, Guarda, Belmonte, Serra da Estrela rodando 430 km. De Aveiro pedalamos a Espinho (60 km) e até chegar ao Porto mais 35 km.

Assim, na terra de Cabral

foram até agora mais de 550 km pedal.

Eta rima pobre!

No aspecto eminentemente ciclístico as coisas mais relevantes foi a quebra do bagageiro da Célia em Aveiro que rodou apenas os 550 kms desta viagem e a dificuldade se vencer o percurso de Aveiro a Porto pelo forte vento, quase totalmente contra, que nos ventilou o tempo todo.

Porto chega a ser uma cidade imperial. Sei que o foi no passado, mas guarda uma estranha similitude com Praga. É desorganizada, majestosa, simpática, malandra e acolhedora, sem dizer que por incrível coincidência aqui eles falam um idioma quase parecido com o nosso.

Hospedamos-nos no coração da cidade alta, ao lado da Igreja do Carmo.

Nestes últimos 2 dias fomos de trem a Guimarães e Braga para praticar o esporte mais difundido nesta terra, subir escadas ou ladeiras para se conhecer igrejas.

Na próxima postarei as fotos de Braga e Guimarães.

Deixamos para decidir em Porto qual caminho prosseguir, o caminho Português tradicional, via Barcelos ou o chamado Caminho Monacal, via Viana do Castelo ou pelo litoral. Decidimos, e espero não me arrepender, seguir o Monacal.

É verdade que não entraremos ainda numa tradicional rota de peregrinação porém, como vínhamos privilegiando conhecer mais os aspectos ou cidades históricas este caminho nos pareceu mais adequado.

Bem, hoje consegui a façanha de deixar-me “up to date” neste blog e como diria um jornalista Gioia Junior, já falecido há mais de dez anos: “Chega de prosa!”

terça-feira, 18 de maio de 2010

Leiria, Figueira Foz e Coimbra







Em dois dias fizemos de Leiria a Coimbra, passando por Figueira Foz.

A entrada em Figueira Foz é magistral. Passar pela ponte estaiada e ver ao longe a cidade é uma visão linda!

Como não conseguimos o carimbo de nossa credencial na Sé de Figueira, seguimos para Buarcos para obter lá o carimbo. No restaurante mantido pela igreja fizemos a nossa melhor refeição da viagem, pelo menos até agora.

Dia seguinte bicicletamos até Coimbra. Os dois trajetos somaram 116 kms, o que nos colocava já com 400 kms de pedal em solo português.

Dias amenos e belas paisagens, principalmente de Figueira a Coimbra.

Encontramos uma estrada que margeava o Rio Mondego, tranqüila e bucólica.

Bem, que dizer de Coimbra. Logo me lembrei de uma canção cantada por Caetano Veloso:

Coimbra Composição: Raul Ferrao / José Galhardo

Coimbra do Choupal
Ainda és capital
Do amor em Portugal
ainda
Coimbra onde uma vez
Com lágrimas se fez
A história dessa Inês tao linda
coimbra das cançoes tao meigas
Que nos poe
Os nossos coraçoes a nu
Coimbra dos doutores
Para nós os teus cantores
A fonte dos amores és tu


Coimbra é uma liçao
De sonho e tradiçao
O lent é uma cançao
E a lua a faculdade
O livro é uma mulher
Só passa quem souber
E aprende-se a dizer saudade


E realmente aprende-se dizer saudade.

Do trajeto até então Coimbra tinha sido a cidade que tive maior empatia. Cidade na encosta, boemia e tradicional. Católica e arrivista com seus estudantes perambulando a noite as ruas com suas becas pretas e garrafas de vinho a mão, cantando ébrios o que viesse a cabeça.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Torres Vedras, Óbidos, Caldas da Rainha, São Martinho, Alcobaça








De Torres Vedras (Torres Velhas) pegamos a N8, movimentada, em direção a Óbidos.


Óbidos é uma vila cercada por altas muralhas. É uma cidade das que eu chamo cidades presépio, como Parati, Goiás (Goiás Veho), Ouro Preto ou Mariana.


Cheia de lojinhas para a venda de suvenires, pequenos restaurantes e ruas estreitas.

Deixamos as bikes numa tenda de venda de guloseimas regionais e adentramos pela porta da fortificação.

Um encanto! Uma vilinha preservada e pelo que consta um presente de rei para uma rainha. Maria Antonieta recebeu o pequeno Trianon, esta recebeu uma vila.


De Óbidos fomos a Caldas da Rainha, uma estação de águas. Novamente uma cidade com um centro histórico de ruas estreitas. O dono do hotel, simpático, parecia uma figura dos quadrinhos de Eisner.


49 km sem grandes problemas.


Dia seguinte, alterando um pouco nosso itinerário original e cansado de ficarmos ouvindo os carros zunindo em nossos ouvidos, resolvemos sair da N8 que nos levaria diretamente a Alcobaça e pegar uma estrada litorânea.


O tempo estava virando. Vento contra e a chuva nos pegou. Aqui o tempo muda rapidamente, pode ter sol e no instante seguinte chuva. Tivemos que procurar nossas capas e sapatos debaixo de água o que deixou nossa manhã bastante desconfortável. Nosso pedal pelas encostas portuguesas foi congelante.


A tarde o tempo melhorou mas a corrente da Célia nos preocupava. Pensávamos ir a Nazaré, mas resolvemos um pouco antes quebrar para uma estrada que aqui é conhecida como estrada de campos, tipo vicinal. Pela primeira vez conseguimos pedalar lado a lado.


Perto de Alcobaça vimos a cena da foto acima. Uma curva de quase 90 graus precedia uma ponte relativamente estreita. A motorista deve ter economizado na angulatura de entrada uns 30 graus e arremessou seu carro no rio. Quando por lá passamos, algumas horas mais tarde, ela estava sobre a ponte acompanhando o trabalho de resgate e comentando alegremente o seu feito.


Um dia de 41 kms.

domingo, 16 de maio de 2010

Sintra, Ericéria e Torres Vedras



Saindo de Sintra fomos diretamente ao litoral para a praia de Ericéria, numa Nacional.


Em Portugal as rodovias de autopista (A) não permitem o tráfego de bicicleta. Assim, as estradas nacionais, conhecidas também como estradas antigas são as que, quase sempre transitamos em nossa cicloviagem.


Bastante movimentadas e muitas vezes sem acostamento estressam bastante. Os português porém respeitam demais as bicicletas. Ultrapassam deixando pelo menos 2 metros de distancia. Praticamente ultrapassam com a roda esquerda em cima da faixa limite entre as 2 pistas. Quando vem carro em sentido contrario, eles brecam não nos ultrapassando.

Meninos, eu vi! Um ônibus, aqui conhecidos como auto car morrer numa subida pois não se sentiu seguro em ultrapassar a Célia.

Após Ericéria continuamos a seguir pelo litoral. O bicho pegou. Duas subidas intermináveis de uns 200 mts de altura.

Na segunda subida nosso primeiro contratempo. A corrente da bicicleta da Célia se rompeu. Por sorte nossa 3 garotos resolveram nos ajudar poupando-me de ter de procurar meu óculos de leitura e testar minha imensa inabilidade manual. Como tínhamos as ferramentas para o concerto conseguimos seguir viagem sem problema.

Agraciei os 3 gentis meninos com as 3 camisetas que ganhei quando percorri as ciclofaixas de domingo em São Paulo. Agradeço ao Kassabinho e ao Bradescão ter tido a possibilidade de presentear os meus amiguinhos portugueses.

Resolvemos parar um pouco antes de Torres Vedras, na localidade de Gilbraltar, num hotel de beira de estrada. Fomos a cidade verificar a bicicleta da Célia e o mecânico deu seu OK.

Nesse dia percorremos 65 km.

Iniciando o Caminho







Colocado os alforjes laterais e a bagagem, a bicicleta começou a se comportar como um potro xucro. Parecia quer empinar para trás o tempo todo e arredia.

O netbook comprado um pouco antes da viagem veio com o novo padrão de tomada brasileiro. Conclusão: Apesar do vendedor ter garantido que a tomada seguia o padrão europeu.

Saímos por Lisboa à procura de um adaptador e foi de um insucesso total!

Somente em Cascais resolvi serrar o pino terra e com isto tive acesso de novo ao computador.

O caminho para Sintra foi por Estoril e Cascais. Pegamos uma Nacional, estrada extremamente movimentada.


Estas duas cidades são balneárias embora tenham também o fascínio da parte histórica.

Perto do Estoril, saindo da estrada para a calçada, apesar da guia rebaixada calculei mal o ângulo de entrada. Com a bicicleta pesada, derrapei e conheci literalmente o solo português. Por sorte a Célia trazia um saco que dando um soco vira um saco de gelo. Com isto e mais uma pomada o dano não foi pior e deu para prosseguir viagem. O arroxeado do joelho, já a mais de 1 semana, continua a me adornar.


De Cascais a Sintra se sai do nível do mar para mais de 230 m. Uma subida de 20 kms em uma estrada bastante movimentada. É uma subida interminável, mas a chegada a Sintra é apoteótica.

Sintra fica incrustada em uma floresta e a descida é alucinante.


No centro histórico de Sintra o único lugar plano é da porta do quarto a cama. Senão, ou se sobe ou se desce.

Estamos em pedal já há uma semana. Até agora, exceto Lisboa, Sintra foi a que mais me conquistou meu coração.

Ficamos em uma pensão no centro histórico e o dono da pensão parecia um personagem egresso de um livro de Eça de Queiros. Figura de uns 65 anos, com jeito de coroinha ainda casto, com sorriso fácil e infantil. Conhecia bem o Brasil e a cidade que mais gostou, pasmem, foi Ouro Preto.


Em Sintra conhecemos o Castelo dos Mouros, Palácio Nacional de Sintra e o Palácio de Estoril.

Confesso que a cidade merecia mais de 1 dia de exploração mas seguimos viagem dia seguinte.