sábado, 29 de maio de 2010

Similitudes, micos e outras direcções

PORTUNHOL EM PORTUGAL

Quando um argentino, uruguaio, espanhol ou qualquer outro similar chega a um brasileiro pedindo informações, “duela a quem duela” como diria o Collor de triste memória, nos armamos de uma enorme cara de pau e respondemos em um bom portunhol, mesmo que nosso interlocutor entendesse melhor o português.

Nossos irmãos de além mar fazem algo similar.

Inúmeras vezes, e não foram poucas, perguntei em Portugal alguma informação em Português e confesso para meu espanto, que me respondiam em inglês, francês e até italiano.

Quantas vezes tive que alerta-lo que “please, speake portuguese with me!”

Parece que não se conformam de me responder em língua mãe.

Confesso que muitas vezes fiquei orgulhoso com os elogios do excelente português que falava, a despeito de eu ter previamente me identificado como brasileiro.

HOSPEDANDO-SE EM SANTIAGO.

Chegando a Santiago da Compostela o primeiro lugar que nossa tendência peregrina nos obriga a ir, mesmo eu um peregrino de araque, é dirigir-se a Catedral para moralmente sentir que chegamos, atingimos nossos objetivos.

Após é ir atrás da Compostelana, para sacramentarmos documentalmente que chegamos e ter um papel para exibirmos orgulhosos para os amigos e comentar nossos feitos.

Depois é buscar um lugar para hospedarmos. Fomos abordados por uma série de pessoas oferecendo alojamentos baratos. Devem receber comissão pelos incautos que encaminham.

Fomos abordados por uma senhora baixinha, vestida de preto, com maior jeitão de beata que nos ofereceu um quarto com banheiro no local onde habitava.

Fiquei curioso e fomos seguindo a senhorinha para ver o que tinha a oferecer.

Levou-nos a um apartamento, onde vive e acabamos por ficar no quarto por 35 euros a noite.

Perguntei a ela, Sra Pastora, se ela sempre saia a rua para arregimentar hospedes para seu apartamento. Ela respondeu meio indignada que não, estava apenas voltando da igreja e nos viu e suspeitou que procurávamos quarto.

Dá para acreditar!


OUTRAS DIRECÇÕES

Uma coisa que me chamou a atenção em Portugal, principalmente nas rotundas, vulgo rotatória, é que além das diversas placas que assinalam as direções a seguir, existe uma que invariavelmente assinala “outras direcções”.

Perguntava-me o que significaria esta placa e cheguei a conclusão que estão a dizer “se você não sabe aonde quer ir, vá por aí”.

AINDA SOBRE OUTRAS DIRECÇÕES

Pensando em usar este tema como parte do título de uma postagem, como estou a fazer agora, resolvi parar e fotografar uma placa com estes dizeres.

Vínhamos pedalando por ciclovia a beira da calçada em Viana do Castelo quando vi uma placa. Parei para sacar a minha máquina fotográfica que levo na bolsa de meu guidão.

A Célia, estabanada ao me ver parar compreendeu que era para atravessar a rua e assim o fez a uns poucos metros antes de uma faixa de pedestres.

Imediatamente um guarda local usou seu assobio, a parou e começou a repreende-la.

Ela obviamente usou o surrado argumento de que era brasileira, etc e tal...

Oportunisticamente aproveitou para mandar que eu registrasse o momento fotografando e avisou o guarda que enviaria a foto para o Brasil.

O guarda alegou que não poderia pois achava que era muito feio. Célia o contradisse dizendo que não, que ele era bem bonitinho.

O guarda se ajeitou, colocou o quepe no lugar e pousou para a fotografia.

TOMAR

Estávamos em Tomar, no domingo. Já tinham visitado a cidade e queríamos voltar para Leiria, onde tínhamos pernoitado e deixado às bicicletas.

O ônibus, aqui conhecido como autocar, só passaria as 17:40 hs. Teríamos que baldear em Batalha e pegar outro para Leiria.

Ficariamos umas 3 horas sem nada a fazer.

Matutando em encontrar alternativas, parados num ponto de ônibus, a Célia resolveu inquirir um motorista de linha, que tinha parado no ponto, quando passaria o próximo ônibus a Leiria.

Ele confirmou o horário que tínhamos e ainda inconformados resolvemos ir até a rodoviária na esperança de existir encontrar uma outra alternativa. Quem sabe ir a Fátima e de lá chegarmos ao nosso destino.

Caminhamos até a rodoviária. Lá havia um monte de pessoas jogando dominó.

A Célia perguntou a um dos jogadores qual seria a melhor forma de ir a Tomar.

O cidadão quase aos berros respondeu:

- E eu não falei a senhora que o ônibus só passa as 17:40.

Era o motorista que já nos tinha dado a informação antes e estava a jogar com os amigos antes de voltar a circular.

AFINANDO A PONTARIA

Estávamos na simpática Belmonte e resolvi parar na igreja local solicitar o carimbo para a minha credencial de peregrino.

O padre local estava numa sala ao lado da igreja discutindo em voz meio exasperada com dois homens o que supus serem problemas da comuidade.

Meio que desistindo do carimbo, resolvi seguir meu caminho quando já na rua o padre pediu que eu voltasse.

Bem, voltei e o padre me levou ao salão paroquial ao lado da igreja.

Lá estava a funcionar uma creche.

Carimbou e aí eu pedi para ir ao banheiro para tirar “água do joelho”. Ele me levou até o banheiro.

Ao fechar a porta me deparei com uma privada pequenininha, do tamanho de um pinico.

Tive que afinar a pontaria pois estava assaz apertado.

Terminado, orgulhosamente sem conspurcar o chão, um cidadão abre a porta ao lado saindo do banheiro dos adultos que tinha uma privada tamanho decente.




QUANDO ME REFORMAR

Quando nos hospedamos no hotel em Caldas da Rainha, a simpática dona do estabelecimento perguntou de onde éramos.

Ao dizermos que éramos do Brasil, de São Paulo ela manifestou o desejo de conhecer nossa terra.

Desafiando-a perguntei porque não fazia logo esta viagem. Ela respondeu que não poderia, só depois de se reformar.

Eu, energúmeno pensei que “se reformar” seria fazer alguma espécie de plástica e galantemente falei que ela estava muito bonita do jeito que estava, que não precisaria mudar nada.

Ela ainda bem que não entendeu a minha enorme gafe. Arrematou dizendo que o hotel lhe tomava muito tempo e iria ao Brasil depois de parar de trabalhar.

Reformar em Portugal significa aposentar-se!

3 comentários:

  1. Primeiro parábens a vc e Célia por terem concluído esta primeira viagem a Santiago. Sim, vai dar comichão de fazerem a pé pelo Francês, depois pelo Aragonês, e por ai vai! Depois muito interessante estes aspectos menores mas tão importantes da viagem. Aprendemos muito com eles. Pena que quando fiz a minha em 2000 não existiam ainda blogs com esta facilidade de deixarmos registrado. Eu ainda quero voltar a Santiago, quem sabe de bike, quem sabe por Portugal. Recursos ainda me faltam, mas quem sabe no futuro! Agora, tome um tempo para entre vcs conversarem, sentirem o que realizaram, descansar para por as idéias em ordem. Não entrem na "vida LOKA" direto, para não perderem algo importante que vcs vivenciaram durante o Caminho. Vc vai saber do que estou falando em breve!

    ResponderExcluir
  2. ai se na hora daquele vaso sanitário tamanho penico vc estivesse apertado com o vizinho do xixi, levava o vaso para casa...entalado! quaaaaaaaaa
    boa viagem, e continue nos mandando suas impressões que são assaz divertidas como se diz no clássico portugues.
    bjos aos dois

    ResponderExcluir
  3. Parabéns

    Curtimos adoidado. Sua narrativa esteve ótima.

    Aproveitem o resto da viagem para namorarem bastante.

    Abraços

    Nelson e Miriam

    ResponderExcluir